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domingo, 5 de julho de 2015

Conflitos

A região do Oriente Médio é uma das áreas mais conflituosas do mundo. Diversos fatores contribuem para isso, entre eles: a sua própria história; origem dos conflitos entre árabes, israelenses e palestinos; a posição geográfica, no contato entre três continentes; suas condições naturais, pois a maior parte dos países ali localizados é dependente de água de países vizinhos; a presença de recursos estratégicos no subsolo, caso específico do petróleo; posição no contexto geopolítico mundial.


As fronteiras das novas nações, definidas de acordo com interesses europeus, não consideraram a história e as tradições locais, consequentemente vários conflitos ocorreram e continuam ocorrendo no Oriente Médio.
Os novos Estados árabes – Iraque, Kuwait, Síria, Líbano, Jordânia – brigaram por recursos naturais e território. O conflito mais grave ocorreu na Palestina, para onde, até o fim da Segunda Guerra, havia migrado meio milhão de judeus. Quando foi criado o Estado de Israel, cinco países árabes atacaram, na primeira das seis guerras entre árabes e israelenses.

Observação (Atualmente é o petróleo, os governos colocam as diferentes etnias em conflito ou alegam que os países mantem atividades nucleares (Iraque) para invadir e dominar o Petróleo. 
Israel não tem riqueza mas serve de base para gerar conflitos nas regiões vizinhas. E um país em guerra almeja fabricar armas potentes para se defender. O motivo das guerras é sempre político, mas colocam religião no meio para justificar.)

Qualquer análise pontual no Oriente Médio pode cair na superficialidade se considerada de maneira isolada da totalidade. As políticas que agitam o mundo árabe com cenários de destruição e massacre estão combinadas e tem objetivo estratégico do agente estadunidense. O mundo vem assistindo sentado a um espetáculo de extermínio dirigido pelos Estados Unidos e seus tradicionais aliados.

Conflitos no Oriente Médio: políticas isoladas ou estratégia combinada?
"Recente divulgação de documentos do wikileaks comprova relação dos estadunidenses e seus principais aliados no oriente médio, como Arábia Saudita, Qatar e Israel, com o armamento e alocação de lideranças do Estado Islâmico (ISIS)"
Qualquer análise pontual no Oriente Médio pode cair na superficialidade se considerada de maneira isolada da totalidade. As políticas que agitam o mundo árabe com cenários de destruição e massacre estão combinadas e tem objetivo estratégico do agente estadunidense. O mundo vem assistindo sentado a um espetáculo de extermínio dirigido pelos Estados Unidos e seus tradicionais aliados.
Ucrânia, Síria, Líbia, Líbano, Iraque e Palestina
Desde os primeiros dias de julho deste ano Israel, armado e financiado pelos Estados Unidos, vem bombardeado a Faixa de Gaza demarcando um dos mais brutais genocídios promovidos pelos países desde o início da ocupação militar de Israel na Palestina. Já são 2300 mártires, dentre eles crianças, adolescentes e mulheres que foram silenciados em seu grito por vida.
A Síria enfrenta, desde 2011, um demarcado extermínio promovido pelo governo de Bashar Al-Assad e também por sua oposição, caracterizada pelos mercenários apoiados pelos Estados Unidos.
Também em julho deste ano o conflito no Iraque se acirra com o fortalecimento do grupo jihadista sunita Isis (Estado Islâmico da Síria e do Iraque), fundado como resistência armada à ocupação militar dos Estados Unidos no Iraque. Com o fim da invasão, o principal alvo passou a ser os xiitas que, segundo eles, tornaram-se porta-vozes do Ocidente ao levarem a cabo o acordo de Sykes-Picot[1], acordo entre França e Inglaterra após a Primeira Guerra Mundial que delimitou a fronteira comum entre Síria e Iraque. O objetivo dos fundamentalistas é reconfigurar o território no formato que antecede ao tratado colonialista e estabelecer um califado na região. O grupo avançou conquistando territórios primeiramente na Síria; depois, em julho, tomou cidades no Iraque e em agosto ocupou parte do Líbano.
Recente divulgação de documentos do wikileaks[2] comprova relação dos estadunidenses e seus principais aliados no oriente médio, como Arábia Saudita, Qatar e Israel, com o armamento e alocação de lideranças do Estado Islâmico (Isis), que realiza uma resistência armada em oposição aos governos sírio e iraquiano e já massacrou brutalmente milhares de pessoas. As últimas notícias do Iraque reportam as dezenas de milhares de refugiados em função do avanço do grupo jihadista e o número de mulheres vendidas como escravas em mercados e mantidas em cativeiros pelo grupo, onde são estupradas e violentadas de tantas outras formas.

No Iraque, a manobra dos EUA se realiza de maneira complexa. A saber, o país é composto por cerca de 70% da população xiita, de forte minoria sunita e de curdos que, desde a década de 1960, lutam pela independência do Curdistão. Como forma de gerar certo grau de estabilidade política, os Estados Unidos garantem que lideranças xiitas que prometam levar à frente sua cartilha de “democracia” e “governo amplo” ocupem o cargo de primeiro-ministro, reservando a presidência para seus tradicionais aliados, os curdos (importantes apoiadores da invasão do Iraque em 2003). Dessa forma, os EUA traçam um jogo de interesses peculiar para o cenário político internacional ao manipular taticamente os três grupos antagônicos do Iraque: curdos, sunitas e xiitas. Como objetivo estratégico, o clássico jargão de “dividir para conquistar” segue funcionando para o imperialismo e a perspectiva de uma “intervenção e controle humanitário” da estimada segunda maior reserva de petróleo do mundo faz-se justificada.
Estados Unidos
O jogo de dupla moral realizado pelos EUA consiste em uma brutal limpeza étnica da região onde o país tem profundos interesses financeiros, tendo em vista que todos os países-alvos do imperialismo são fontes de hidrocarbonetos com investimento de grandes empresas de petróleo ou mesmo que abrigam rota estratégica de circulação de capital.
Em um contexto mundial de disputa ideológica demarcada pela Guerra Fria, a religião foi um recurso estrategicamente utilizado em especial no Oriente Médio durante as décadas de 1960 e 70. A ascensão de movimentos pan-arabista seculares com orientação de esquerda, como o Nasserismo, significou uma grande ameaça ao controle dos Estados Unidos da região rica do ouro moderno: o petróleo. Os movimentos levantavam a bandeira nacionalista de restringir o petróleo do Oriente Médio para seus próprios propósitos regionais. Diante disso, a solução pareceu óbvia para os imperialistas: fundar e financiar grupos religiosos fundamentalistas na religião como forma de conter os “desvios” à esquerda. O plano pareceu funcionar perfeitamente quando, depois dos anos 1970, a mudança em nível global das condições sociais e econômicas, combinadas ao desmantelamento de estados que corporificavam tendências progressistas, passaram a configurar um vácuo político. Foi criado, portanto, o terreno fértil para a ascensão da religião, recurso ideológico à altura de corresponder ao ressentimento em massa que se criava e capaz de elevar à transcendência o debate de seus argumentos irrefutáveis.
"O genocídio ocorrido em Gaza faz parte do projeto de busca por recursos de petróleo, mas com peso político fundamental para centrar atenções em seu mais forte aliado do oriente, Israel, que rouba a cena em atrocidades que lograram furar o bloqueio midiático"
A estratégia estadunidense de fomento desses grupos fundamentalistas, apoiando inclusive o Talibã a chegar ao poder no Afeganistão em 1996, guarda suas próprias contradições reveladas ao passo que os fundamentalistas se tornam também canal de resistência contra o imperialismo estadunidense. Após o “ataque de 11 de setembro” esses grupos são declarados oficialmente inimigos dos EUA e verbalizados como terroristas. Apesar disso, foram mantidos os financiamentos e armamentos enviados aos grupos do “eixo do mal” pelo país[3], sustentando conflitos internos, com o controle de sua intensidade e duração, e forjando desculpas para invasões “humanitárias”.
A subsequente invasão dos Estados Unidos no Iraque em 2003 demarca a origem de grupos de resistência. Como dissidência do Al-Qaeda, surge o Isis, grupo sunita jihadista. Nesse momento, passou a ser interessante para os Estados Unidos armar o Isis na oposição do governo sírio, fortemente articulado com a Rússia, e na contenção de grupos mais radicais xiitas no Iraque, que passaram a fazer oposição ao governo iraquiano, também xiita, por sua política “branda” na contenção da minoria sunita.  A saída das tropas do Iraque em 2011 foi política e economicamente pensada pelo país: com a crise financeira que os Estados Unidos vinham enfrentando e como perfeita plataforma política de diferenciação, a campanha do Obama foi alavancada pela promessa de fim da guerra no Iraque. A retirada oficial, entretanto, não significou o fim da intervenção do país, que segue nomeando os líderes políticos xiitas da estrutura de poder iraquiana, ao passo que armam e organizam[4] os jihadistas do Isis, da minoria sunita e apoiam as bandeiras e exército Peshmerga dos curdos, como confirmada há poucas semanas pelo Departamento de Estado norte-americano[5].
Para fechar o ciclo de contradições políticas, nesta semana o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou em pronunciamento que “Hamas é Isis. Isis é Hamas”. Não bastasse terem encontrado armas com munição de Israel nas mãos do Isis recentemente e o comprovado financiamento dos Estados Unidos e de Israel ao grupo, o primeiro-ministro ainda promove descaradamente a cruel associação entre os grupos. A resistência palestina, por outro lado, se posiciona contrariamente ao grupo desde sua maior visibilidade na oposição ao governo sírio. Membros da Frente Popular de Libertação da Palestina inclusive não hesitaram em identificar similaridades do grupo com a ideologia sionista: “ambas promovem extermínio étnico e religioso e ambas estão a serviço do imperialismo”, afirmou o militante Farid.
O que os EUA querem então?
A última escalada de ações do país alcançou um nível esquizofrênico: armou o Isis; bombardeou o Isis quando chegavam ao limite fronteiriço do Curdistão; armou os Peshmergas (exército curdo); trocou o primeiro-ministro xiita; discordou do referendo de independência do Curdistão. Documentos divulgados esta semana pelo WikiLeaks provaram a relação entre o líder do Isis, Abu Bakr al-Baghdadi, e o Mossad (serviço secreto israelenses) e a CIA[6]. Os documentos apontaram o líder como fantoche do imperialismo. Poucos dias depois, o Serviço Aéreo Especial do Exército Britânico (SAS) e as unidades de missões especial e antiterroristas dos EUA (Seal Tem e Delta Force) declararam estar treinando soldados para um duro golpe contra o Isis com o “objetivo prioritário de capturar o líder da organização, o Baghdadi”[7]. Essa política de “bate e assopra” tem por perspectiva política livrar-se de culpas e funcionar como catalisador do já latente conflito étnico e religioso da região. O que podemos tirar como certeza da situação neste momento é que no centro dos interesses financeiros de grandes corporações, seres humanos são o que menos importa e já são corriqueiramente chamados de “danos colaterais” pelos estados genocidas estadunidenses e israelenses.
O risco para o Iraque é de terminar fragmentado em três partes. Apesar dos pronunciamentos públicos recentes dos EUA argumentarem que sua política é “prioritariamente para manter o Iraque unido”, sabemos que no fim de 2007 foi votado favoravelmente no Congresso norte americano a proposta de fragmentação do Iraque em três territórios[8]. Dividido ou não, definitivamente será garantido o resguardo da região curda, rica em petróleo e que mantém acordos bilionários do recurso com Israel, além da nova rota de trânsito de petróleo definida em junho deste ano. Além disso, a lealdade entre Curdistão e Estados Unidos, estendida também a Israel, que teve início com a aliança contra Saddam Husseim, faz com que a região esteja fortemente vinculada com esses países como estratégia política de sua luta pela independência, declaradamente apoiada pelo premier israelense e pelos Estados Unidos.
Com um olhar mais atento, é possível notar que a preocupação com o avanço do Isis ao território curdo embasa também um dos fatores de motivação do atual bombardeio genocida em Gaza. Em dezembro de 2010 foi descoberto o então revelado “mais proeminente terreno de gás natural já encontrado na Bacia do Leste Mediterrâneo” e estaria localizado “nas costas de Israel”, impulsionando o país a se tornar um grande exportador de gás e petróleo[9]. A estimativa de 1,7 bilhão de barris abriu os olhos de muitos países, em especial aqueles que estão na disputa de reivindicar sua parte em termos de abrangência em território marítimo. Israel e Líbano, que oficialmente permanecem em guerra, já começaram a trocar faíscas na disputa da reserva. A Síria já fechou contratos prévios com a Rússia para a exploração dos recursos, o que preocupa os Estados Unidos em seu apoio indiscriminado a Israel para que mantenham o controle do petróleo e gás do Oriente Médio. Os 30 trilhões de metros cúbicos de gás serviriam para abalar o controle majoritário da exportação russa na Europa. O problema é que, como demonstra o mapa abaixo, as bases encontradas estão situadas na região correspondente a Gaza. Algumas teorias defendem[10], inclusive, que mesmo o genocídio de Israel contra Gaza em 2008, “Operação Chumbo Fundido”, e o recente bombardeio serve como reafirmação que as ofensivas são de guerras energéticas. Embora a questão não se reduza a isso, dentre os inúmeros fatores, esse certamente é um deles.
Dentre especulações ainda não confirmadas, sonda-se inclusive que Israel iniciou um plano sionista de compra de terras no Curdistão com o objetivo de implementar um novo tipo de ocupação militar com o apoio dos curdos judeus. Se a especulação se confirmar, fará bastante sentido já, uma vez que a região será estratégica para Israel na exploração e no escoamento dos hidrocarbonetos da Bacia Leviathan.
Já a Ucrânia, em conflito desde 2013 com os protestos regulares de oposição ao governo que ganharam um caráter fascista preocupante, também é peça importante nos planos dos Estados Unidos de afastar a Rússia do cenário político e econômico abrindo espaço para suas intervenções de protagonismo no Oriente Médio. O genocídio ocorrido em Gaza faz parte do projeto de busca por recursos de petróleo, mas com peso político fundamental para centrar atenções em seu mais forte aliado do Oriente, Israel, que rouba a cena em atrocidades que lograram furar o bloqueio midiático. Imagens de crianças mutiladas pelo estado sionista israelense sensibilizaram a opinião pública de forma a incentivar julgamentos contrários à ação e ganhando centralidade no tema midiático do Oriente Médio. O genocídio de Israel contra a Palestina sempre dividiu a opinião pública de forma desproporcional devido aos escandalosos investimentos em propaganda midiática contra a Palestina que mobilizam o holocausto como carta na manga para acusar qualquer um em desacordo com a política de Israel de “anti-semita”. O conflito que perdura por mais de 65 anos é apenas atualizado pelo brutal extermínio atual, abafando a repercussão das políticas articuladas no entorno por todo o mundo árabe.
A tática dos Estados Unidos, combinada à tática do estado sionista de Israel, faz o jogo de destruição sem sujar as mãos: armam grupos inimigos do Oriente Médio, falsificam lideranças e assistem de longe aos massacres levarem à frente seus planos de dominação. Contudo, revoltas são multifacetadas e seus objetivos seguem sendo próprios e autônomos, apesar da intervenção imperialista. É aí que se faz necessário uma intervenção oficial do mais avançado armamento do mundo. A novidade agora é esse distanciamento dos americanos, que fazem do mundo árabe seu vídeo game particular tomando a distância necessária para ações friamente calculadas, cada vez mais marcados por ataques aéreos e bombardeios, especialmente através do uso de “drones” (aviões automatizados controlados diretamente dos EUA). A guerra passa a ser um cálculo que dá certo sem mãos sujas de sangue.
Poderíamos analisar a questão em torno do Oriente Médio através de um enfoque em conflitos que giram em torno do petróleo. Seríamos, entretanto, levianos se o fizéssemos. A questão central e radical, no sentido daquilo que vai à raiz, não se encerra na superficialidade de uma das commodities mundiais. A raiz desses conflitos é a relação de um mundo estruturado pelo capitalismo e os interesses que nele são criados e sustentados em detrimento de qualquer que seja o obstáculo.