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domingo, 5 de julho de 2015

Intolerância Religiosa (Islamofobia)

Islamofobia em SP? Mesquita Brasil é pichada com a mensagem “Je suis Charlie”

A parede do maior templo islâmico do país, localizado na capital, amanheceu neste domingo (11) com a mensagem que vem encabeçando as campanhas contra o ataque ao jornal francês Charlie Hebdo. “Nós não somos terroristas”, afirmou gestor da mesquita 
Por Ivan Longo Do Spresso sp
O ataque ao jornal francês Charlie Hebdo, vem gerando uma série de debates acerca da intolerância religiosa. A máxima “Je suis Charlie” (Somos Charlie, em português), usada por aqueles que querem prestar apoio aos jornalistas assassinados, infelizmente também caiu como uma luva para aqueles que pregam a islamofobia e essas manifestações já vêm ficando evidentes em uma série de lugares do mundo, inclusive em São Paulo.
A Mesquita Brasil, maior templo islâmico do país, localizada na Avenida do Estado, na capital, teve suas paredes pichadas justamente com a inscrição “Je suis Charlie”. A frase, que até então vinha sendo utilizada em atos e nas redes sociais, não carregava um tom preconceituoso até ser estampada justamente na parede de um templo islâmico.
Feres Fares, gestor da mesquita, disse ao SPressoSP que a comunidade islâmica “não esquenta” com esse tipo de atitude. “Infelizmente as pessoas querem se expressar e acharam por direito pichar uma parede sem autorização, em uma atitude completamente anti-civilizatória. Que liberdade de expressão é essa? ”, afirmou. “Nós não somos terroristas por que não causamos terror a ninguém”, completou.
Para Fares, o ataque ocorrido em Paris não representa os princípios da religião muçulmana e tratou-se, na verdade, de um ataque político, e não religioso. “Temos certeza que quem fez aquilo não é muçulmano. Se fossem, deixaram de ser a partir do momento em que mataram. Isso é resultado da conjectura política e do crescente islamofobia. Pra gente, isso não é um ato religioso, é um ato político”, analisou.


Islamofobia no Brasil: muçulmanas são agredidas com cuspidas e pedradas


(Foto: Sarah Ghuraba)

                                   

Ataques de grupos extremistas pelo mundo despertam onda anti-islã nas ruas do País; leia os relatos das vítimas
A recente chacina na sede do jornal Charlie Hebdo, em Paris, transformou, para muito pior, a vida de brasileiras muçulmanas. Religiosas de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso sofreram violências de diferentes níveis - foram apedrejadas, cuspidas, ignoradas no transporte público e alvos de piadas maldosas nas ruas -, nos dias seguintes ao ataque em uma onda de islamofobia que se opõe frontalmente à imagem brasileira de país multirreligioso e pacífico.

Um dia após a invasão do jornal parisiense, os ataques ganharam força similar aos milhares de compartilhamentos “Je suis Charlie” nas redes sociais. A Mesquita Brasil, maior templo da religião no País, amanheceu pichada na capital paulista. Horas depois, no interior de Minas Gerais, A.P.B., de 27 anos, foi cuspida por uma pessoa enquanto brincava com o filho de seis anos no clube da sua cidade. “Assassina! Ninguém quer você aqui”, gritou o agressor. Assim como em outros ataques diários, A. abaixou a cabeça e ouviu aos xingamentos calada. Apenas uma semana depois, Sarah Ghuraba, de 27 anos, caminhava para uma consulta médica na periferia de São Paulo quando sentiu um forte impacto na perna. “Muçulmana maldita”, disse um desconhecido. A frase veio acompanhada com uma grande pedra. "AlhamdulilLah [graças a Deus] pegou na minha perna", pensou a mulher. Ao iG, ela garantiu que não foi seu primeiro ataque - e imagina que não será o último. “Será que uma muçulmana brasileira precisa morrer para entenderem que existe islamofobia no Brasil? ”, questionou, ressaltando que o tema deveria ser tratado com a mesma importância dada aos casos de xenofobia e homofobia.

Sarah falou que a curiosidade na rua não incomoda e que até gosta quando desconhecidos perguntam educadamente sobre suas vestes. Afinal, segundo todas as entrevistadas, a pergunta pode ser uma abertura para o ensino do verdadeiro islamismo. “O islã é uma religião monoteísta. Nós amamos Jesus Cristo e esperamos o seu retorno. Maria, a mãe de Jesus, é uma das cinco mulheres mais importantes no paraíso. Quem fala que o islamismo é terrorismo deveria conviver conosco”, sugeriu Sarah, revelando que conceitos básicos do cristianismo são respeitados pelos seguidores de Maomé.

Segundo ela, que dá aulas de teatro em uma escola a jovens do Jardim Ibirapuera, periferia paulistana, se a sua religião pregasse apenas o terrorismo, o mundo seria tomado pelo caos e guerra. “Somos 1 bilhão pelo mundo. Islã é paz, sossego e felicidade”, explicou com tom alegre na voz. A professora criticou ainda o radicalismo no Oriente Médio, pois isso mancha a comunidade. E completou: “O que eles fazem é proibido e chega a ser um haraam [pecado]”.

Preconceito dentro e fora de casa

Escolher o islamismo como nova religião foi uma afronta para as três famílias católicas. Tanto Halimah como A. conheceram os ensinamentos do profeta ainda muito jovens, com 12 e 17 anos, respectivamente, pelos amigos da escola. Já Sarah deixou os estudos para virar freira há quatro anos por não ter respostas sobre o Alcorão das lideranças na igreja. As três encontraram forte resistência e preconceito dentro de casa. A., por exemplo, começou a usar o véu e quase foi proibida pela mãe de prestar a segunda fase do vestibular. O momento não era o mais apropriado, ela reconheceu. O atentado de 11 de setembro havia acabado de completar um ano. “Foi o momento mais difícil para ser uma muçulmana. ”

Aos poucos, as três conquistaram os respeitos dos familiares mais próximos e cortaram a relação com outros que ainda as descriminam. “O sheik me ensinou a lidar com a rejeição da minha família. Quando ela reclamava do véu ou das orações, eu a abraçava. Nunca rebatia. Allah não estima agressores. Mostrei para a minha família como o islã realmente é. Os mais próximos aprenderam e hoje respeitam”, comemorou A.

Quando a submissão e os abraços não encerram as críticas, a solução é se afastar. "Eu até ria no começo, quando falavam que eu estava louca e tinha virado terrorista. Mas cansei de ouvir isso. A muçulmana enfrenta o pior dentro e fora de casa", desabafou Halimah. Sarah divulgou o ocorrido em sua página do Facebook para alertar outras irmãs que costumar sair sozinhas de casa porque “cuidamos uma do caminho da outra”. “Recebi muitas mensagens solidárias, mas também recebi um monte de ameaças. Falaram que eu deveria ter levado um tijolo na cabeça e outros prometeram terminar o trabalho. É assustador”. Para ela, as pessoas não conhecem o islã, mas acreditam fielmente que é uma religião de terroristas e assassinos. “O problema são as pessoas mais desinformadas, que desconhecem nossa religião e formam opinião pelo que assistem na televisão”, avaliou A.P.B.

Halimah Farah, de 26 anos, aderiu ao islamismo há um ano, mas já coleciona experiências de intolerância religiosa em Cuiabá, no Mato Grosso. Apedrejada em abril do ano passado, à época do sequestro de 276 alunas na Nigéria, protagonizado pelo grupo extremista Boko Haram, a vendedora entrou em estado de alerta após a chacina em Paris. Uma corriqueira ida à escola para buscar o filho mais velho virou um pesadelo. Halimah e os pequenos Marcelo e Gabriel, então de 8 e 6 anos, viraram alvos da ignorância. “Só abaixei a cabeça, protegi meus filhos e saí correndo. Daquela vez foram pedras, amanhã pode ser um tiro ou atropelamento”, disse ela, comentando que Marcelo chegou a ser atingido na cintura. O episódio marcou a família ao ponto de a vendedora desistir de caminhar 400 metros com o filho até a escola novamente. A saída foi contratar o serviço de van para evitar “toda a provação e provocação” nas ruas.

A., Sarah e Hamilah têm endereços diferentes, mas em comum carregam as crenças no profeta Muhammad (Maomé) e despertam a atenção nas ruas pelas vestes hijabs e abayas, os véus e túnicas que cobrem o corpo, que é sempre guardado aos maridos, como Allah [Deus, em árabe] orientou no sagrado livro Alcorão. "A beleza da mulher muçulmana é a sua fé, não as características externas", pondera Halimah. Caminhar pelas ruas e lidar com olhares tortos já faz parte do cotidiano de muçulmanas, e muitas vezes, não é mais percebido. Eles só incomodam quando chegam acompanhados com barulhos e gritos de Insha'Allah (se Alá quiser), que ficaram famosos na novela “O Clone”, produzida pela TV Globo, em 2001.

O trio acredita que as pesadas críticas contra ao islamismo são reflexos da desinformação da população. “Muitos não sabem que brasileiros podem aderir ao islã. Muitos pensam que só árabes são muçulmanos”, contou A., convertida há dez anos e que ainda estuda a religião para se tornar uma melhor divulgadora do islamismo. Ela relatou que foi confundida inúmeras vezes como estrangeira por usar o véu. “Sempre recebo Namastê [saudação usada por budistas] ou sou atendida com um português extremamente lento. Aviso que sou brasileira e ficam chocados. Já até perguntaram se eu estava virando uma mulher-bomba. ” 
FONTE: Midia News em 26/01/2015


 Contra a islamofobia: quem não é Charlie na França

6 de março de 2015, 9h13
Por Paulo Gustavo Guedes Fontes
Após o atentado contra a revista Charlie Hebdo, escrevi um artigo neste espaço (Charges do Charlie Hebdo: liberdade de expressão x tolerância religiosa) no qual, ao tempo em que rejeitava o extremismo e a violência, esbocei uma crítica às caricaturas do jornal, afirmando que a liberdade de expressão teria limites frente ao sentimento religioso.
Alguns sustentam uma concepção mais absoluta da liberdade de expressão. Ela só poderia ser cerceada em caso de incitação mais direta à discriminação e à violência. Afirma-se, e não se pode negar, que intolerantes são os que reagem com armas ao crayon. O que questiono, e parece óbvio em outros campos, é se a tolerância e a necessidade de convivência não recomendariam limites até mesmo a uma liberdade tão fundamental; tolerar algo ou alguém é conviver com características que não nos agradam. Mais uma vez, pode-se retrucar: que os muçulmanos convivam melhor com as críticas e as caricaturas. Mas um aspecto que deve ser levado em conta nesse conflito de princípios é a essencialidade do sentimento religioso para o crente. Algumas vozes na França vêm se manifestando nesse sentido.
Thibaud Collin, professor de filosofia num colégio católico em Paris, em artigo publicado no Le Monde em 15 de janeiro criticou também as sátiras da Charlie e afirmou que “exigir que um muçulmano se torne um bom cidadão e adira aos valores de uma República cuja encarnação seria ‘Charlie’, é na prática excluí-lo da nação e atirá-lo nos braços dos islamistas que só estão esperando por isso. ”
No mesmo dia, Rony Brauman, ex-presidente dos Médicos sem Fronteiras e professor de relações internacionais na Sciences Po em Paris, em artigo intitulado “O que há de não-Charlie em mim”, evita chamar de covardes os jornais ingleses que deixaram de reproduzir as caricaturas da Charlie após o atentado. Dizendo-se a favor do direito de blasfemar, Brauman teme, contudo, que a sátira seja mais ou menos permitida de acordo com seu alvo, lembrando que a Charlie Hebdo demitiu em 15 de julho de 2008 o cartunista Siné, acusado de antissemitismo por conta de uma crônica escrita no semanário alguns dias antes; Siné chegou a sofrer investigação pela Justiça francesa.
Também no Le Monde um coletivo de autores, envolvendo lideranças de imigrantes e a União judia francesa pela paz, publicou o artigo intitulado “Mais que nunca, é preciso combater a islamofobia”. Rejeitam o que chamam de escolhas binárias e propõem perguntar se existe uma relação entre a política levada a cabo pelos países ocidentais e o crescimento dos grupos extremistas e fanáticos, afirmando, como exemplo, que a Al-Qaeda não existia no Iraque em 2003 e não possuía base territorial, e que agora o Estado Islâmico controla parte do território do Iraque e da Síria. Lembram ainda que o drama dos palestinos alimenta a ideologia dos grupos mais extremistas, como admitiu o secretário de Estado americano John Kerry. Defendem uma política de conciliação com os muçulmanos franceses, inclusive se lhes assegurando direitos como o uso do véu islâmico pelas estudantes nas escolas públicas (em 15 de setembro de 2009, artigo meu publicado na Folha de São Paulo - Véu islâmico, laicidade e liberdade religiosa - criticava a proibição do véu islâmico na França).
Enfim, como dito, as coisas são mais complexas do que as escolhas binárias e deve-se refletir sobre a política ocidental em relação ao mundo islâmico e aos imigrantes muçulmanos. Senti-me obviamente confortado com os pontos de vista explicitados acima. E vai no mesmo sentido a declaração do Papa Francisco de que há limites para a liberdade de expressão, afirmando, com sua jovial coloquialidade, que ofender a religião de alguém é como xingar sua mãe.





Islamofobia -  sentimento de ódio ou de repúdio em relação aos muçulmanos e ao Islamismo em geral.